MACROMICRO A CIÊNCIA DO SENTIR      

 

APRESENTAÇÃO 

 

Como estudante de Psicologia, muitas questões chamavam minha atenção. Como as diversas correntes psicológicas, suas subdivisões e suas técnicas, com visões tão diferentes do ser humano, muitas vezes opostas, conseguiam resultados satisfatórios? O que seria, de fato, o psicológico? O que seria, de fato, o sentimento? Para mim, as respostas destas questões representavam um grande mistério.

 

Particularmente, observando a mim mesma, verificava a intensidade dos meus sentimentos, da minha sensibilidade, do meu pensamento, da minha busca como ser humano, enfim, da minha pessoa na relação comigo mesma e na relação com o outro e toda esta vivência gerava em mim um grande ponto de interrogação.

 

A minha análise pessoal, sem dúvida alguma, me proporcionou a possibilidade de lidar com todos esses fenômenos internos e a compreender a dinâmica deles dentro de mim, tornando-me uma pessoa com um forte sentimento de paz e com alegria de viver. O estudo da teoria psicanalítica, nas suas diversas correntes, também, em muito vinha me acrescentando na compreensão da estrutura psíquica do ser humano. Mas toda esta compreensão ainda era pouca para mim em termos do conhecimento psicológico humano.

 

Como de fato tudo acontece? Como, de fato, se processa o “EU”? Como, de fato, acontece de eu ser o que sou e do outro ser o que ele é? Como, de fato, se processam os sentimentos? Como, de fato, se processa a sensibilidade? Como, de fato, se processam os pensamentos? 

 

Sem dúvida, estas são questões existenciais de alguém que, ao questionar a existência, acreditou que através do estudo da física muitas destas questões poderiam ser melhor compreendidas.     

 

Partindo do princípio que o estudo sobre o ser humano na área biológica sempre começava no nível celular e que nunca houve uma pesquisa sobre os possíveis efeitos da estrutura atômica que compõe o ser humano, por uma simples intuição pessoal, acreditei que se pudesse começar o estudo do ser humano no nível do seu interior atômico e não no nível celular, muitas das minhas questões poderiam ser melhor compreendidas.       

 

E assim, no ano de 1986, com o único propósito de realizar esta pesquisa, iniciei o curso de graduação em Física, a ciência que, entre outras coisas, tem por objeto de  estudo o interior atômico e a energia; e posteriormente, complementando os estudos para esta pesquisa, no ano de 1990, iniciei o curso de Especialização em Física Moderna com base na Física Clássica.

 

Após onze anos de pesquisa, este livro foi concluído.

 

A bem de uma maior clareza, este livro não é um livro de Física, pois a Física não tem como objeto de estudo o psiquismo humano com todas as suas implicações. Quando muito,  este livro pode ser considerado um embrião de Psicofísica.

 

O estudo da Física, sem dúvida, esclareceu muitas das questões levantadas por mim, mas foi necessário percorrer diversas outras áreas de estudo a fim de tentar encontrar uma visão mais global do ser humano. Percorremos o campo da biologia, da  música, da arte etc.

 

Verificamos muitas áreas do conhecimento que poderiam ter sido utilizadas, mas não foram, porque limitamos o nosso campo de pesquisa à esfera do sentir, ao processamento do “eu” e das relações humanas no campo da ciência psicológica.

 

Este livro foi dividido em duas partes. A primeira é uma explicação introdutória de alguns conceitos da Física necessários para o entendimento de nossa tese; e a segunda é a nossa pesquisa propriamente dita.

 

Na primeira parte, podem surgir críticas pelo excesso de simplificação adotada para a explicação de fenômenos tão complexos. Muitas vezes, o excesso de simplificação pode incorrer em falhas teóricas no desenvolvimento dos conceitos. Resolvemos correr este risco, em consequência de a primeira parte do livro ser direcionada a um público totalmente leigo em Física, e se mantivéssemos tudo aquilo que seria de fato necessário para a compreensão do desenvolvimento dos conceitos, seria muito pouco provável que pudéssemos atingir as pessoas leigas em Física, pois dificilmente elas poderiam assimilar fenômenos tão complexos.

 

No entanto, temos a certeza de que se alguns artifícios didáticos foram utilizados em prejuízo da mais precisa explicação do desenvolvimento dos fenômenos, estes artifícios não feriram o objetivo final, a assimilação correta dos conceitos.

 

O importante é que, ao chegar na segunda parte do livro, o leitor, antes totalmente leigo em Física, naquele instante, ainda sendo um leigo em Física, tenha adquirido noções mínimas e básicas sobre as áreas de domínio da física, uma onda eletromagnética, o fenômeno da cor, a ressonância, o princípio da incerteza e a teoria da relatividade restrita. Para o aprofundamento destes fenômenos em todos os seus detalhes, só mesmo sendo um físico e, assim mesmo, sabemos por experiência própria, o quanto é difícil. Muitas vezes, uma vida inteira estudando esses fenômenos faz-se pouco para compreendê-los na sua complexidade.

 

Para aqueles que já possuem uma noção sobre os fenômenos da Física abordados na primeira parte deste livro, sugerimos iniciar a leitura do livro a partir da segunda parte. Isto porque, se os fenômenos físicos abordados nesta tese já tivessem atingido ao público leigo, este livro teria se iniciado na segunda parte, fazendo-se totalmente desnecessária a primeira.

 

Para finalizar esta apresentação gostaria de convidar o leitor, e principalmente o leitor psicanalista, a abster-se de “verdades” préconcebidas. Para que, de fato, esta tese seja compreendida e assimilada, faz-se necessário muita disponibilidade para  ideias novas em um campo que temos plena noção da alta complexidade e que ainda tem muito a ser explorado.

 

Beatriz Breves